quarta-feira, 25 de abril de 2012

"25 de Abril"

Reproduz-se o discurso efectuado pelo Eng.º Duarte Nuno Bastos, em representação da bancada da coligação "Pela Nossa Terra" na Assembleia Municipal, nas comemorações do "25 de Abril".



Descolonização, desenvolvimento e democratização: estes foram os três Ds que sintetizaram a revolução de abril e que procuraram acentuar a diferença para o regime anterior.

De facto, o regime ditatorial tinha uma espécie de obsessão já fora de moda pelas suas colónias. Tinha, também, muita dificuldade em lidar com a vontade individual, com a liberdade de cada um, com as escolhas próprias. Vivia ainda com uma visão muito pobre e redutora de desenvolvimento. E quem padecia era o país, eramos todos nós.

Foi isto que nos conduziu a uma intervenção militar seguida por um povo inteiro: a promessa de um país mais livre, mais justo, mais desenvolvido, mais próspero. Um país, enfim, do mundo moderno e evoluído.

Não tendo vivido a revolução, a nossa geração nasceu no seio de um país com vontade de construir um futuro melhor, pleno de oportunidades e conquistas, fossem elas colectivas ou individuais. Recebemos o desejo de um país voltado para as pessoas, para as suas capacidades, para as suas competências, para os seus méritos, mas também para as suas responsabilidades.

Hoje, 25 de abril de 2012, o que fizemos dessa vontade? É certo que Portugal é hoje diferente, e para melhor, daquilo que era há 40 anos atrás. Somos mais desenvolvidos. Temos melhores condições de vida. Estamos mais preparados, mais competentes. E ainda assim, esbarrámos com uma imagem pouco animadora: um país em crise, um país endividado, um país sem oportunidades. Paradoxal, é certo, mas ainda assim, verdadeiro.

Como foi possível chegar até aqui? Como foi possível desbaratar o capital de abril ? Aquele sentimento quase ingénuo de que tudo era alcançável; uma mobilização geral em torno de um futuro mais digno; uma vontade imensa de ser maior…

Hoje, 25 de Abril de 2012, que letras constroem o nosso país? As mesmas. É como se o D de descolonização se transformasse em D de dependência: estamos totalmente dependentes de uma ajuda externa, colonizados pelos nossos credores. Parece que o D de desenvolvimento foi tomado pelo D de dívida: as pessoas estão endividadas, as empresas estão endividadas e o país está endividado. Finalmente, o D de democracia deu lugar ao D de desilusão: estamos cada vez mais desinteressados e afastados de uma democracia participada.

Por isso: Duvida-se, deduz-se e demanda-se.

Duvida-se que uma boa quantidade de edifícios construídos, de estradas rasgadas, ou de estádios vistosos não sejam apenas propaganda de regime.

Deduz-se que o paternalismo do Estado que tudo vigia e acode porque todos contam com ele evoluiu menos do que seria esperado, desde o olhar intrusivo do Estado Novo.

E demanda-se por uma maior profundidade da Revolução na identidade portuguesa. Lá, onde não cabe apenas uma freguesia, uma câmara ou um Governo. Cabe a imensidão de uma NAÇÃO.

Temos de rever as nossas expectativas enquanto país. Temos de mudar de paradigma e de construir um novo modelo de desenvolvimento. Um modelo que não se substitua às pessoas, porque é exatamente para elas que deve existir. É fundamental devolver às pessoas a condução dos seus destinos, valorizando a iniciativa individual, o mérito, o risco, a criatividade. É fundamental dar espaço à espontaneidade social e fomentar a cooperação.

Este é a esperança renovada de abril, por uma geração ansiosa de mudança.

Haja capitães.